Cantoras brasileiras cada qual com seu estilo e talento em suas
épocas. Cantoras consagradas e atuais. Cantoras que sofreram na ditadura e as
que lutaram pela democracia.
Vamos mostrar um pouco sem
uma ordem cronológica vozes que fizeram
parte da nossa historia no passado e hoje. Dividimos em três post para falar um pouquinho de cada uma.
Carmen
Miranda
Em uma época de
dificuldades infinitamente superiores, Carmen foi a voz e a imagem do Brasil no
exterior. Nascida em Portugal, foi no Rio de Janeiro que ela começou a carreira
no começo da era de ouro das cantoras do rádio, em meados dos anos 30 – quando
já havia feito sucesso com a icônica marcha carnavalesca “Pra Você Gostar de
Mim (Taí)” e registrado dezenas de outras canções em disco. Com essa energia
que transformava as letras melancólicas em hits dançantes dos bailes, Carmen
fez uma transição rápida para o cinema e logo também pulou para a Broadway e
Hollywood. Passou a cantar também em inglês e, mesmo com o sotaque arrastado,
conquistou a simpatia ianque. Deveria, então, uma portuguesa de sucesso nos
Estados Unidos estar nesta lista de brasileiros? “Carmen Miranda me ensinou que
uma gringa pode ser a mais brasileira de todas”, decretou Rita Lee à Rolling
Stone, em 2007.
Inezita Barroso
O trabalho de pesquisa,
registro e divulgação do folclore musical do Brasil que Inezita faz há décadas
é monumental. Ela segue resoluta pela estrada de chão batido que a levou ao coração
do país para resgatar modas de viola, pagodes caipiras e outros ritmos. A voz
de contralto de Inezita tem o cheiro do mato e a amplidão dos campos. É a
rainha inconteste da verdadeira canção rural brasileira.
Dona Ivone Lara
São mais de 90 anos de samba, e Dona Ivone Lara
exibe com graça tanto tempo vivido não só na habilidade com que interpreta as
canções, como também na naturalidade entregue a cada nota, com a elegância de
uma voz que poderia ser frágil, mas é inteligentemente imprecisa e subjetiva.
Além de compositora de importante obra, ela também é uma realeza popular, que
desfila e angaria reverências já no respeitoso nome que carrega por onde passa.
Aracy
de Almeida
Aracy de Almeida começou a
carreira nos anos 30, gravando obras-primas do compositor Noel Rosa, Com ele
teve grande convivência e dele gravou muitas músicas. Era chamada de:"A
Dama da Central", pois somente viajava de trem e quase sempre pela Central
do Brasil. Noel Rosa disse numa entrevista a Orestes Barbosa, que Aracy de
Almeida, que muitos chamavam de Araca, era sua melhor interprete.
Até hoje, a voz boêmia de
Aracy é veículo perfeito para expressar dores de amores e as infindáveis noites
nos botequins.
Angela Maria
Começou
cantando em coro de Igreja. Enquanto trabalhava numa fábrica de lâmpadas,
participava, às escondidas, de programas de calouros. Adotou o nome de Ângela
Maria para não ser identificada pela família. Como ganhava todos os concursos,
foi cantar no famoso Dancing Avenida e depois na rádio Mayrink Veiga.
Angela Maria consagrou-se como uma das grandes intérpretes do
gênero samba-canção (surgido na década de 30), ao lado de Maysa, Nora Ney e
Dolores Duran.
Dalva
de Oliveira
A arte como imitação da
vida. As canções doloridas que Dalva de Oliveira entoava com sua voz imensa
refletiam fielmente sua própria vida amorosa turbulenta. A batalha que ela
travou através dos discos com Herivelto Martins, depois da separação do casal,
registrou uma das mais tempestuosas e célebres relações da nossa música. Mais
do que os detalhes controvertidos da biografia da cantora, o que interessa são
as gravações. Com Herivelto e Nilo Chagas, Dalva formou em 1937 o histórico
Trio de Ouro. O maior sucesso do grupo, “Ave Maria no Morro”, descobre beleza
em um cenário de pobreza, o das favelas do Rio, em afirmação poética e
existencial de grande valor. No final dos anos 40, partiu para uma carreira
solo repleta de êxitos comerciais e artísticos. Com lindo timbre e vigoroso
vibrato na voz, Dalva sabia utilizar recursos dramáticos com eficiência e como
ninguém.
Nana
Caymmi
Dinair Tostes Caymmi já
nasceu cantando. Afinal, ela vem de um dos berços mais esplêndidos da música
brasileira. Filha de Dorival Caymmi, cantor e compositor baiano, Nana recebeu
de presente do pai, ainda criança, a linda canção “Acalanto”, a qual, aos 19
anos, gravou com ele, o que praticamente marcou o início de sua carreira. Desde
então, sua voz potente e de respiração perfeita marcou várias composições do
pai. Contralto da maior grandeza, ela chamou atenção em 1966 ao vencer o I
Festival Internacional da Canção, da TV Globo, interpretando “Saveiros”,
composição do irmão Dori Caymmi e de Nelson Motta. Outro momento marcante da
carreira foi, na década de 1990, quando excursionou com Dori e o outro irmão,
Danilo. Inúmeras vezes premiada como a melhor cantora do ano, Nana não poderá
ser jamais esquecida em qualquer lista que se faça das grandes vozes femininas
brasileiras.
Clementina de Jesus
Clementina fez sua
primeira gravação, ao vivo, somente aos 63 anos de idade, em 1964. Aprendeu com
a mãe os cantos de trabalho, jongos (cantados na língua africana bantu) e
pontos de umbanda e candomblé, ao mesmo tempo em que fazia parte do coro de uma
igreja católica. Isso faz com que sua voz trovejante representasse a mistura de
credos e raças do país, especialmente no cenário do começo do século 20, com a
nossa cultura popular ainda sob forte influência africana. Neta de escravos,
Clementina pegou do continente africano alguns detalhes do seu jeito de cantar
e chegava a ser repreendida nas casas onde trabalhou – uma das patroas chegou a
pedir para ela parar com os “miados”. Ao se ouvir gravada pela primeira vez, na
casa de Herminio Bello de Carvalho, percebeu que de miado sua voz não tinha
nada.
Celly Campelo
Celly Campelo nunca
escondeu suas raízes interioranas – ela, ao lado do irmão Tony, nasceu em
Taubaté, em São Paulo. Mas não enveredou pela música regional e sim pelo rock,
tendo êxito com versões para hits internacionais. A voz de Celly foi mais
ouvida no pop brasileiro pré-jovem guarda.
Elizeth
Cardoso
Padrão e sólida referência
do canto feminino brasileiro, por conta da estilosa voz de contralto que roçava
os tons de mezzo-soprano, Elizeth Cardoso lançou em um disco de 1958 a
revolucionária batida diferente do violão de João Gilberto. Mas àquela altura a
Divina, epíteto da cantora carioca descoberta por Jacob do Bandolim em fins dos
anos 30, já havia feito seu nome ao gravar outras canções do amor demais. Sem
se limitar aos sambas-canção, gênero predominante na primeira fase de sua
discografia, Elizeth transitou com seu canto apurado por samba, choro-canção,
MPB e até pelas Bachianas de Villa-Lobos. Mas jamais se esqueceu de dar voz aos
maiores compositores da era do rádio. Foi o período que a projetou em escala
nacional nos anos 50 a partir da gravação de “Canção do Amor”. Única, Elizeth
cantou divinamente a trilha sonora de sua época.
Fafa de Belem
O sorriso largo chama a
atenção, mas não tanto quanto o cantar grave e potente de Fafá. Abraçando as
raízes do Norte em diversos momentos da carreira, ela não se limitou, porém, a
regionalismos. Ainda menor de idade, começou a viajar para cantar. Quando, em
1975, teve incluída na trilha de Gabriela a música “Filho da Bahia” (de Walter
Queiroz, redescoberta hoje graças ao remake da novela) foi ouvida em nível
nacional. O primeiro disco só viria no ano seguinte.
Vanusa
Não se engane: Vanusa não
é piada pronta, mas sim uma das mais subestimadas cantoras da nossa música. O
problema é que ela começou na era da jovem guarda, um movimento que nunca
ganhou muito respeito por parte da crítica. A voz única, expressiva e com
dicção perfeita, realmente desabrochou na década de 70, quando passou a
interpretar canções mais “adultas”. Atualmente, os discos antigos de Vanusa são
um vasto oceano de maravilhas a serem redescobertas.
Wanderléia
Assim como Celly Campelo,
Wanderléa transmitia musicalmente para as garotas de sua geração as sensações
de ser jovem e estar vivendo em tempos maravilhosos. Mas se Celly personificava
uma atmosfera inocente, Wanderléa era a voz de tempos mais livres, como foram
os anos 60. Mesmo sem um alcance vocal que impressionasse, ela sabia como
“vender” uma canção, e por isso tornou-se o ícone feminino mais famoso da jovem
guarda.
Elba Ramalho
O vibrato e o sotaque são
carregados pela paraibana Elba Ramalho nestes mais de 30 anos de carreira com a
mesma garra com que o sertanejo atravessa o solo árido pelo horas a fio em
busca de água. Elba vagou por xote, maracatu, frevo, baião, forró e chegou à
MPB calejada e com personalidade grande. Nas canções românticas, pepitas dentro
de um repertório dançante, ela mostra seu maior dom: cantar com paixão
desesperadora, capaz de fazer brotar lágrimas em marmanjos.
Zélia Ducan
A cantora nascida em
Niterói representa um filão interessante na prateleira das vozes femininas que
surgiram na década de 90. Dona de vocais graves com traços de rouquidão,
passeia com flexibilidade em sonoridades diversas. Ela se sai bem no folk, pop
e samba. O estilo discreto de seu vocal é um contraponto para interpretações
desenvoltas nos palcos. Sempre fugindo do óbvio, Zélia faz incursões elegantes
por repertórios alheios e já casou sua voz em inúmeras parcerias.
Sandra de Sá
Assim como Sandra de Sá
sempre faz questão de salientar suas origens no seu visual, na voz também está
escancarada a negritude orgulhosa habilmente traduzida nas muitas notas que a
cantora consegue atingir desde um grave poderoso ao agudo estridente. Sandra
faz o que quer com as notas e tem um balanço cativante no palco em uma explosão
de ritmos. E além disso, também não tem nenhum medo da breguice ao ser
completamente passional.
1 comentários:
Beleza de blogue.
Viste o meu:
Travessia: http://blogdabethmuniz.blogspot.com.br/
Um abraço.
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